sábado, agosto 05, 2006

Schostakovitch nº13

A 13ª e a 14ª de Shostakovitch, foram executadas nas últimas semanas pela OSESP na Sala São Paulo. Ambas tiveram o baixo russo Sergei Leiferkus como solista, primeiro com o Coro masculino e depois com a soprano, também russa, Tatiana Pavlovskaya.
Para mim foi a oportunidade de passar a encarar a obra de Schostakovistch de uma forma diametralmente oposta a que eu vinha fazendo até então. Sempre vi este compositor russo como alguem amargurado, oprimido pelo controle exercido pelo regime soviético, mas ao mesmo tempo, conivente. Sua obra, por isso mesmo, soa um tanto ermética e destila uma por esconder o que realmente quer dizer. Com estas duas sinfonias pude confirmar esta opinião. Mas o que eu não esperava, e isso foi para mim uma revelação, era poder vislumbrar o mundo escondido por trás desta capa hermética.
A sinfônia 13, Babi Yar, parte de um episódio histórico - o massacre de judeus na Ucrânia durante a Segunda Guerra por tropas SS, para falar do anti-semitismo de estado praticado pelo estado soviético. Schostakovitch faz isto de forma pungente no primeiro movimento, onde o coro masculino ora entoa um canto fúnebre que lembra os mortos no massacre, ora se transforma nos cossacos bêbados que matam crianças e violentam mulheres indefesas, nos pogroms do tempo da Rússia imperial. Em seguida, como num autêntico Squerzo, o tema é o Humor. Você pode fazer o que quizer, diz o poeta, mas não conseguirá matar o humor. Ele é a arma dos fracos. Uma clara referência a opressão do regime. Os dois movimentos seguintes retomam a atmosfera lúgubre do início. O sofrimento das mulheres que enfrentam as filas diariamente em busca da sobrevivência e o medo dos homens que os devora e paralisa. Estes dois movimentos desembocam no tocante finale: o Carreirista. O texto fala daqueles que ousaram fazer uma carreira seguindo seus principios: Cristo, Galileu, Tolstói entre outros. Todos foram sacrificados ou ficaram loucos, mas o tempo mostrou que estavam certos. Se ao fianl estou em tão boa companhia, diz o poema, até que não é tão mal ser chamado de carreirista. Este último movimento é simplesmente sublime. O compositor evita a soilução fácil de fazer algo pomposo ou festivo. No final ele encontra alguma esperança de redenção e este sentimento é sereno, nada de júbilos frenéticos.
A sinfonia 13 consegue também soar como algo perfeitamente russo sem cair naquele nacionalismo piegas que tanto incomoda em outros compositores que procuraram criar uma música nacional. Ao mesmo tempo, é universal pelos sentimentos que evoca.

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