sexta-feira, dezembro 30, 2005

“Eco on the beach”

Férias, finalmente! Na praia aproveito para reler “O pêndulo de Foucault” de Umberto Eco. O livro, como todos os romances do autor é uma tese. Umberto Eco é o autor daquele manual “como escrever uma tese”, leitura obrigatória de todo estudante de pós-graduação, que estabelece passo a passo a estrutura de um bom trabalho acadêmico. Mas em sua própria obra ele vai além da tese acadêmica, escrevendo teses em forma de romances. É assim com “O nome da Rosa”, sobre a veiculação do conhecimento na idade média, “Baudolino” que trata do maravilhoso e o “pêndulo”, sobre o hermetismo e as sociedades secretas.
É inevitável olhar para o best seller “O código da Vinci” como quem diz “já vi isso em algum lugar”. Afinal “O pêndulo de Foucault” também é uma história de suspense, com direito a assasinatos e desaparecimentos misteriosos. Tudo isso envolvendo Templários, os Roza-cruzes (sic) e é claro Rennes le Chateux. A grande sacada de Umberto Eco neste livro é desenvolver a história a partir de uma brincadeira entre três amigos intelectuais que inventam uma estória sobre um complô para dominar o mundo que envolve os Templários, o Santo Graal, o Conde Saint German e outros ícones do ocultismo, por pura diversão e descobrem que há quem leve isso muito a sério. A partir daí eles são vistos como detentores de um segredo explosivo e passam a ser perseguidos por isso.
Num entre tantos lances de humor para iniciados o personagem Casaubon inicia a descrição de sua ida ao Pílades, boteco de intelectuais esquerdistas, com um …Et in Arcadia ego!
Bom, isso tudo são reflexões feitas na praia tomando uma caipivodka. Esta forma alternativa de se apreciar teses acho que nem mesmo o Umberto Eco imaginou.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

perto do fim...

Não, não é o apocalipse que se aproxima, mas o fim da temporada de concertos!

terça-feira, dezembro 06, 2005

Um típico restaurante típico...

... em Évora.

Existem dezenas de restaurantes como esse em Évora. Este foi onde conheci o “porco a alentejana”. Pena que eu não fotografei o prato!

Évora II

Continuando os comentários do post anterior: come-se e bebe-se muito bem em Évora. Acho só isso já justificaria uma visita a cidade. O Além-Tejo é possivelmente a região vinícola mais interessante de Portugal. Existem algumas regiões demarcadas como Borba, Redondo e Reguengos, que eu me lembro agora sem fazer maiores pesquisas, que produzem ótimos vinhos. Vinhos que fogem à fórmula consagrada dos merlots e cabernets repetida à exaustão nos países do novo mundo (com ótimos resultados). As uvas aqui têm nomes característicos como castelão (periquita), antão vaz, aragonês, trincadeira. Os vinhos, e isso vale para toda Portugal têm nomes que evocam um certo exotismo, e para nós brasileiros podem soar um tanto extravagantes. Barroca do Prior, Anta da Serra, Bastardo e o melhor de todos, Pera Manca.

Fui para Portugal já na expectativa de beber bons vinhos o que, de fato, aconteceu. Uma Surpresa para mim no Além-Tejo foi a produção de queijos de ovelha, conhecidos como queijos do Além-Tejo. É sentar em qualquer restaurante, ou tasca, que lá está ele, muitíssimo curado, quase seco, cortado em fatias finas - os queijos têm o formato tradicional circular, não ultrapassando os 10 cm de diâmetro - ou levemente curado, com uma casca macia e a parte interna bastante fresca com uma tendência a se esfarelar ao ser cortada. Esses queijos, juntos com o paio defumado, são o acompanhamento ideal para os vinhos da Região.

A cozinha local é bastante simples, camponesa, e por isso mesmo, deliciosa. Come-se muita carne de porco e, claro, muita batata. O primeiro almoço em évora foi um “porco a moda alentejana”, cubinhos de pernil ensopados no vinho com muito coêntro e, o toque genial, vieiras! isso coberto com batatas fritas cortadas em cubinhos e regado com boas doses de limão. Esse tipo de combinação de carnes e frutos do mar parece ser algo comum nas cozinhas mediterrâneas, e o Além-Tejo neste e em outros pontos é mediterrâneo, é algo que não costumamos ousar por aqui, o que é uma pena. Um outro prato português que faz essa combinação com sucesso são as lulas recheadas com pedacinhos paio ou ainda as lulas grelhadas com grossas fatias de bacon! Combinar a terra com o mar. Essa foi mais uma lição aprendida nas terras de Camões.

Évora

Uma das coisas que me motivou a criar um blog foi minha ida recente a Évora, cidade medieval no Além-Tejo, para participar de um encontro sobre a música produzida lá nos séculos XVI e XVII. A ideia é sedutora, pelo menos para que gosta de música renascentista: durante quatro dias mergulhar num repertório no mesmo lugar onde ele foi originalmente produzido quatrocentos anos antes. Essa é a proposta das “Jornadas Internacionais - Escola de Música da Sé de Évora”. Há ainda o atrativo de trabalhar com alguns dos principais nomes no campo da Música Antiga: Peter Philips, diretor do The Tallis Scholars e Dominique Vellard, do Ensemble Giles Binchois.
Além do aspecto musical há, é claro, o interesse em conhecer esta região que produz alguns dos melhores vinhos portugueses e um delicioso queijo de ovelha, uma verdadeira surpresa nesta viagem. A gastronomia do Além-Tejo e seus vinhos valem só eles um artigo inteiro. Fica a ideia para um post futuro.
Antes de falar das Jornadas e da polifonia eborense, aí vão algumas imagens da cidade e minhas primeiras impressões.

Praça do Giraldo

A primeira coisa que chama a atenção é a similaridade das cidades portuguesas com as cidades históricas brasileiras. Apesar de ser uma constatação óbvia, o impressão de se atravessar o atlântico para chegar no “mesmo lugar” é surpreendente. A praça principal da cidade acima, chamada Praça do Giraldo, é um misto de Praça XV, no Rio de Janeiro, com a praça Tiradentes de Ouro Preto. Essa impressão se estende ao traçado sinuoso e orgânico das ruas estreitas e pela grade quantidade de igrejas espalhadas pela cidade.

Uma rua em Évora

Essa sensação é quebrada ao nos depararmos com o templo romano que fica bem próximo à Catedral, na parte mais alta da cidade.


Templo Romano

É claro que o estado de conservação geral é bem melhor do que encontramos nas cidades brasileiras. O clima extremamente seco de Évora contribui bastante para isso, em contraste com a umidade da mata atlântica. A ação do clima e a força da natureza em Ouro Preto, por exemplo, é evidente, plantas nascendo em campanários de igrejas, o limo aflorando das pedras, uma umidade presente o ano todo. Em évora a bracura das construções parece recem-pintada, as pedras não têm limo. É possível perceber que isso não é só devido ao fato de haver uma conservação de fato, coisa praticamente inexistente no Brasil, mas o clima é propício ao alongamento dos séculos.