terça-feira, novembro 29, 2005

Ravel

O compositor Maurice Ravel é conhecido principalmente pelo bolero, um magnífico estudo de orquestração onde o tema é repetido inúmeras vezes num crescendo contínuo. O bolero, apesar de ser uma obra de primeira acabou sendo estigmatizado por sua popularidade sendo considerado um tanto apelativo ao gosto popular. Essa popularidade do bolero acaba deixando outras obras do compositor um pouco esquecidas pela maior parte do público. Acho que é o caso das Suites do Ballet “Daphne & Chloé”.
“Daphne & Chloé”, como tantas outras obras primas do início do século XX, foi escrita para os ballets russes de Sergei Diaglev. O Ballet trata do romance entre um fauno e uma pastora na Grécia clássica. Ravel criou duas suites com partes do ballet completo, das quais a segunda é bastante tocada. Além de uma grande orquestra as suites tem a participação de um coro sem texto e, creio eu, justamente por na suite nº 1 haver uma seção inteira a capella é que ela acaba sendo pouco ou nada executada. Na suite nº 2 o coro muitas vezes é simplesmente omitido.
Mas eis que nos últimos dias 24, 25 e 26 de novembro as duas suites de “Daphne & Chloé” foram tocadas na Sala São Paulo pela OSESP e, é claro, com o coro. Como se não bastasse pela oportunidade de se ouvir a suite nº1 (e no meu caso, participar de sua execução) os concertos do último fim de semana trouxeram a São Paulo o Maestro basco Juanjo Mena.
Geralmente a espectativa do coro aos ser escalado para fazer os “aaas” do “Daphne & Chloé” é de dar uma lida na partitura, passar uma vez com a orquestra e ir pro concerto. Afinal a parte do coro é considerada por muitos dispensável.
Com o maestro Juanjo Mena a execução dos “aaas” tomou outro rumo. Foi interessante e, por que não, surpreendente ver o cuidado dispensado pelo maestro a participação do Coro nas suites. Nos ensaios com a orquestra ficou claro que esse cuidado era extensivo a toda a orquestra. O resultado foi o somatório de um perfeccionismo técnico com uma dose de prazer estético em poder fazer uma obra dessas. A surpresa se dá não só pelas qualidades inequívocas do maestro, mas principalmente pelo fato de muitas vezes o regente convidado ter uma postura mais despreocupada perante o programa que veio conduzir.
O resultado foram três concertos excelentes e uma maneira renovada de ver estas participações “dispensáveis”, que muitas vezes nos propomos a fazer de maneira indiferente e com um certo ar de superioridade. Afinal, dificuldade técnica não é o único parâmetro para aferir a qualidade de uma composição. Muito menos o número de notas!

sexta-feira, novembro 18, 2005

em construção

em construção...

Enquanto vou descobrindo aos poucos como funciona isso aqui (colocar fotos, fazer uns ajustes na página, entre outras coisas...), escrevo um pouco só por escrever. A ideia é deixar o blog com uma cara legal, simples mas eficiente, antes de começar a divulgar sua existência.

Tenho pensado em ter como principal “pauta” deste blog as reflexões que venho fazendo sobre o que é trabalhar num centro de exelência em música erudita e suas infinitas possibilidades criativas como uma verdadeira usina pós-industrial das mais variadas expressões musicais. O que é irônico neste contexto é o fato de que, enquanto as grandes indústrias buscam novos modelos organizacionais, calcados em organismos criativos, nós músicos estamos ainda arraigados a uma visão industrial e até mesmo cartorial do que seria o modelo para a operação de uma “empresa” desta natureza.

Esta resistência se dá principalmente nas bases, ou seja, entre os músicos. É difícil para a maioria das pessoas se ver como parte de um organismo e perceber que para ela estar bem, todas as partes também devem estar. Assim, eles não sentem a necessidade de serem criativos, pensam apenas em tirar ou maior proveito possível daquele “serviço”. Isso se traduz na melhor relação possível entre esforço, tempo e dinheiro: quanto menos tempo gasto com o menor esforço possível, independente da qualidade dos resultados, resulta num ganho financeiro maior. Aspectos como criatividade, satisfação artística, prazer estético não são sequer cogitados nesta equação.

Felizmente existem pessoas que pensam de forma diferente e vêm tentando introduzir novas formas de pensar nossa atividade. É incrível, mas talvez tenhámos que aprender com as metalúrgicas a sermos criativos.

quinta-feira, novembro 10, 2005

sartup

A ideia de fazer um blog já é antiga. Ainda falta o que dizer. Ou melhor, faltar não falta, mas entre a intenção o começo da ação, escrever, há um passo custoso. Há que se quebrar a inércia. Então o jeito é começar a escrever para pegar o “tom” aos poucos.
Também há a curiosidade de ver como um blog lançado na web, a princípio sem qualquer divulgação, pode chegar a ter alguma visitação. Será que isso acontece? Fico me perguntando qual seria o mecanismo de difusão natural deste instrumento das comunicações tão atual.