quinta-feira, dezembro 28, 2006

Por que frequentamos a escola?

Relendo Bob Pirsig (Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas) encontro um trecho sobre a educação, mas pode se aplicar à ideia de uma busca por reais motivações para qualquer coisa na vida. O trecho fala da experiência de se abolir notas em um curso universitário e parte da questão “por que nos educamos?” A resposta é óbvia: “porque almejamos o conhecimento”. Parece óvio e ninguém questiona que o objetivo maior da educação é a busca do conhecimento, mas se é assim mesmo, por que precisamos tanto de balizas que quantificam o seu desempenho através de números? Essa quantificação é tão dominante que hoje quase não percebemos mais o seu absurdo. Ela não está presente somente na educação mas também nas políticas públicas que têm como principal objetivo gerar estatísticas favoráveis ao governo.
No livro, a situação onde o professor resolve não divulgar qualquer tipo de juizo durante o curso deixa a classe totalmente desorientada. Um aluno exprime a situação com clareza: “mas nós estamos aqui por causa das notas!”. Um mecanismo criado originalmente para avaliar o desempenho acaba por se transformar no objetivo primeiro da educação.
A situação hipotética de um ensino sem avaliações descrita por Pirsig pode ser um tanto utópica, mas pelo menos pode nos fazer pensar nos nossos reais objetivos no dia a dia. No livro o autor fala de um aluno imaginário que vai se desinteressando gradativamente do curso, com o qual ele não tem a menor afinidade, até abandoná-lo, já que o estímulo das avaliações fora extinto. Uma vez fora da escola, ele procura uma ocupação como mecânico (afinal estamos falando do Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas!). A medida que o seu interesse pela mecânica vai aumentando em função de sua experiência prática, o estudante, que antes abandonara a escola por total falta de interesse, sente que é hora retornar. Agora ele tem um interesse real na educação, ele sabe exatamente o que veio buscar na escola.
Esse mecanismo parece bastante simple e até mesmo óbvio. Mas o que vemos na prática é exatamente o contrário. A grande maioria das pessoas estuda e busca cursos de aperfeiçoamento porque isso é considerado necessário para o seu desenvolvimento profissional não pelo incremento em sua capacidade mas porque seus títulos serão considerados em sua avaliação como profissionais. É muito difícil imaginar um cenário onde todos encaram a idéia de educar-se como uma oportunidade de crescimento pessoal amplo, já que as próprias instituições de ensino procuram vender seus cursos como produtos necessários ao sucesso. Como cliente, o aluno passa a esperar as facilidades a que todo cliente tem o direito de exigir. Ele espera passar pelos anos de formação com o maior conforto possível e o menor esforção, afinal ele já pagar pelo conhecimento. A idéia de que ele ainda precisar estudar pra aprender chega a ser absurda. É como pagar uma diária num bom hotel e ter que fazer você mesmo a cama todas as manhãs.