sexta-feira, julho 28, 2006

Villa-Lobos e Xenakis

Dos concertos deste semestre passado, houve um momento onde parecemos estar revivendo as antigas polêmicas modernistas, dos anos vinte e trinta, e o incômodo da ultra-vanguarda dos anos sessenta. O Concerto de Câmara de julho trouxe, sob a regência de Wagner Polintchuk, o “Choros nº3, Pica-Pau”, de Villa Lobos.
Esta é uma daquelas pequenas obras-primas que explicam porque Villa se destaca tanto em relação a outros compositores brasileiros. Em pouco menos de quatro minutos de música, com um conjunto pouco usual - vozes masculinas e instrumentos de sopro, incluindo um Sax alto - Villa mostra que conhecia profundamente a sua profissão. A obra é deliciosa, utilizando um motivo indígena sem cair em nacionalismos piegas e com um leve toque humorístico.
O inesperado foi o fato desta composição, da década de trinta, ainda causar um certo estranhamento no público, que fica entre o impacto agradável da obra e a desconfiança de que aquilo é uma espécie de brincadeira. Fica claro que a obra permanece atualíssima.
Encerrando o concerto estava a “persephalia” de Xenakis. A obra foi composta para ser executada em uma Arena romana nas ruínas de Pesépolis (no Irã). Seis “ilhas” de percussões ficam dispostas em círculo, envolvendo o público. A música se desenvolve explorando as possibilidades dessa “espacialidade”. Em muitos momentos há uma dessincronia proposital, quando os percusionistas tocam seguindo pulsos diferendes, o que cria, pouco a pouco uma defazagem entre eles.
Na Sala São Paulo, poltronas foram retiradas de alguns pontos da platéia para que os instrumentos fossem posicionados, tentando reproduzir o aspecto espacial da obra. O público ficou entre o perplexo e o incomodado, mas ainda assim somente duas pessoas se retiraram antes que a música terminasse. Em uma execução dentro de uma sala de concertos o aspecto espacial da obra não aparece totalmente, ficamos apenas com uma impressão do efeito pretendido pelo compositor.
Nos dias seguintes a obra de Xenaquis foi comentadíssima no fórum da comunidade “osesp” do orkut. Percebia-se o estranhamento geral que uma peça desse tipo causa, aluns reclamavam, não sem razão, do volume altíssimo produzido pelos instrumentos, a ponto de causar dor nos ouvidos (mais um problema decorrente do confinamento da obra a uma sala de concertos).
Mas niguém percebeu a verdadeira importância do evento. Não falo do espaço dado às vanguardas de quarenta anos atrás mas ao fato de que dentro da OSESP cada vez mais vemos um espaço aberto a seus músicos para que eles se expressem diretamente. A OSESP está indo além da proposta tradicional do “maestro e sua orquestra”. Este ano já tivemos ( e ainda teremos mais) Vivaldi dirigido pelo spalla Emanuelle Baldini e este concerto de câmara dirigido pelo trombonista Wagner Polintchuk. “Pesephalia” foi uma empreitada dos percussionistas da OSESP liderados por Ricardo Bologna, que conseguiram literalmente desmontar a Sala de Concertos para promover um autêntico “happening” dos anos sessenta na Sala São Paulo.
Isso faz com possamos entrever o vasto universo que existe dentro de uma orquestra e isso é algo que poucos maestros têm a coragem e a grandeza de permitir.

quarta-feira, julho 12, 2006

Voltando a ativa

Depois de um longo tempo sem postar nada, volto a escrever. O jeito é fazer um post à la “retrospectiva” desses primeiros meses do ano.
O Coro da OSESP anda a todo vapor. Tivemos bons conertos nesse primeiro semestre. Com a orquestra tivemos, depois do Réquiem, de Verdi, “As sete últimas palavras do Redentor na cruz”, de Haydn (maio); três canções - “Gesang der parzen”, “Nãnie” e ”Schiksallied” - de Brahms (junho); e finalmente a retumbante “Os sete portões de Jerusalem”, de Krzyztof Pendercki.
Nos concertos de Câmara, dois motetos de J. S. Bach. “Singet den Herrn ein neues Lied”, BWV 225 e “Der Geist hilft unser
schwachheit”, BWV 226 em abril. Também fizemos o Choros nº3 do Villa-Lobos (coro masculino e instrumentos de sopro), sob regência de Wagner Polintchuk.
Esse tem sido um período de excelente acolhida para o Coro. As críticas não poderiam ser melhores. De um modo geral, acho que realmente houve um crescimento quanto à sonoridade do grupo. Os naipes estão cada vez mais sólidos, o que faz com que sintamos a necessidade de pensar em um maior refinamento daqui para frente. Esse é, sem dúvida, o grande desafio para qualquer conjunto profissional, encontrar sempre algo a ser superado. Quando achamos que estamos prontos, estamos é acabados.