O compositor Maurice Ravel é conhecido principalmente pelo bolero, um magnífico estudo de orquestração onde o tema é repetido inúmeras vezes num crescendo contínuo. O bolero, apesar de ser uma obra de primeira acabou sendo estigmatizado por sua popularidade sendo considerado um tanto apelativo ao gosto popular. Essa popularidade do bolero acaba deixando outras obras do compositor um pouco esquecidas pela maior parte do público. Acho que é o caso das Suites do Ballet “Daphne & Chloé”.
“Daphne & Chloé”, como tantas outras obras primas do início do século XX, foi escrita para os ballets russes de Sergei Diaglev. O Ballet trata do romance entre um fauno e uma pastora na Grécia clássica. Ravel criou duas suites com partes do ballet completo, das quais a segunda é bastante tocada. Além de uma grande orquestra as suites tem a participação de um coro sem texto e, creio eu, justamente por na suite nº 1 haver uma seção inteira a capella é que ela acaba sendo pouco ou nada executada. Na suite nº 2 o coro muitas vezes é simplesmente omitido.
Mas eis que nos últimos dias 24, 25 e 26 de novembro as duas suites de “Daphne & Chloé” foram tocadas na Sala São Paulo pela OSESP e, é claro, com o coro. Como se não bastasse pela oportunidade de se ouvir a suite nº1 (e no meu caso, participar de sua execução) os concertos do último fim de semana trouxeram a São Paulo o Maestro basco Juanjo Mena.
Geralmente a espectativa do coro aos ser escalado para fazer os “aaas” do “Daphne & Chloé” é de dar uma lida na partitura, passar uma vez com a orquestra e ir pro concerto. Afinal a parte do coro é considerada por muitos dispensável.
Com o maestro Juanjo Mena a execução dos “aaas” tomou outro rumo. Foi interessante e, por que não, surpreendente ver o cuidado dispensado pelo maestro a participação do Coro nas suites. Nos ensaios com a orquestra ficou claro que esse cuidado era extensivo a toda a orquestra. O resultado foi o somatório de um perfeccionismo técnico com uma dose de prazer estético em poder fazer uma obra dessas. A surpresa se dá não só pelas qualidades inequívocas do maestro, mas principalmente pelo fato de muitas vezes o regente convidado ter uma postura mais despreocupada perante o programa que veio conduzir.
O resultado foram três concertos excelentes e uma maneira renovada de ver estas participações “dispensáveis”, que muitas vezes nos propomos a fazer de maneira indiferente e com um certo ar de superioridade. Afinal, dificuldade técnica não é o único parâmetro para aferir a qualidade de uma composição. Muito menos o número de notas!
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