Se a essa hora não tenho sono,
afinal nem é tão tarde,
por que as ideias
teimam em não sair,
sonolentas, preguiçosas?
E eu, que nunca fui de poesia,
fico aqui teclando,
bobagens pra ver se as ideias
resolvem sair...
segunda-feira, abril 16, 2007
quinta-feira, março 29, 2007
devaneios estético-filosóficos...
No primeiro concerto deste ano, um programa com duas obras não muito conhecidas: “Les Noces” de Igor Stravinsky e “Catulli Carmina” de Carl Orff.
Stravinsky está entre os grandes compositores do século passado e é talvez um dos maiores responsáveis por criar algo que até hoje é capaz de soar contemporâneo, isso quando estamos a poucos anos de ver a “Sagração da Primeavera” completar 100 anos.
Já Carl Orff é conhecido pelo hit “Carmina Burana” e ficamos por aí. Alguém poderá se lembrar também que ele foi responsável por criar um método de musicalização utilizado até hoje, mas no campo da composição, desafio alguém a se lembrar de outra obra conhecida do autor.
Então, cá estavam unidos em um mesmo programa “Les Noces” e “Catulli Carmina”. A primeira é mais uma das muitas e geniais obras criadas para os “Ballets Russes” de Sergei Diaglev. A peça foi escrita originalmente para grande orquestra, mas Stravinsky considerou como versão definitiva a que ele fez anos depois para quatro pianos e percussão.
Já o “Catulli Carmina” é uma daquelas sequências que nunca deveriam ter sido feitas. Pois parece que a obra é isso mesmo. Dado o grande sucesso de “Carmina Burana” o autor resolveu que a fórmula podia ser repetida sem grande esforço para mais um sucesso. Só que, não sei porque, ele resolveu pegar emprestada a intrumentação utilizada por Stravinsky em “Les Noces” e ainda por cima resolveu que a parte central da obra, uma peça dentro da peça, poderia se sustentar sobre um coro a capela e monólogos do tenor solista.
É claro que eu não sou um admirador da obra de Carl Orff e provavelmente esteja sendo um pouco intolerante, mas o fato é que diante da riqueza estrutural de “Les Noces”, “Catulli Carmina” parece ser algo rizível de tão pobre.
Mas, não é que “Les Noces” foi aplaudida friamente enquanto “Catulli Carmina” recebeu aplausos cheios de entusiasmo. É claro que se considerarmos o critério de que quanto mais decibéis temos no final da obra, maiores e mais sonoros serão os aplausos, não poderíamos esperar outra coisa.
Mas há algo mais nisso. Seria muito fácil dizer agora que nossas platéias ainda são muito ignorantes e são facilmente seduzidas por um final grandiloquente e que isso jamais aconteceria na Europa e bla, bla, bla... Mas, talvez a riqueza estrutural de “Les Noces” seja algo mais belo no “papel”, ou seja, algo que intelectualmente é inegavelmente belo. Quem for capaz de perceber esta estrutura tão bem urdida acontecer ao longo de uma execução terá um grande prazer estético nisso. Mas esse prazer é em grande parte intermediado pela premissa intelectual. Em contrapartida “Catulli”, que, como já disse, chega a ser rizível como estrutura e, portanto não desperta esse prazer mais intelectual, “Catulli” vai direto na pele. Ritmos fáceis, ostinatos, melodias simples e facilmente memorizáveis, um enredo simples de se acompanhar. Afinal, que mal há nisso?
Stravinsky está entre os grandes compositores do século passado e é talvez um dos maiores responsáveis por criar algo que até hoje é capaz de soar contemporâneo, isso quando estamos a poucos anos de ver a “Sagração da Primeavera” completar 100 anos.
Já Carl Orff é conhecido pelo hit “Carmina Burana” e ficamos por aí. Alguém poderá se lembrar também que ele foi responsável por criar um método de musicalização utilizado até hoje, mas no campo da composição, desafio alguém a se lembrar de outra obra conhecida do autor.
Então, cá estavam unidos em um mesmo programa “Les Noces” e “Catulli Carmina”. A primeira é mais uma das muitas e geniais obras criadas para os “Ballets Russes” de Sergei Diaglev. A peça foi escrita originalmente para grande orquestra, mas Stravinsky considerou como versão definitiva a que ele fez anos depois para quatro pianos e percussão.
Já o “Catulli Carmina” é uma daquelas sequências que nunca deveriam ter sido feitas. Pois parece que a obra é isso mesmo. Dado o grande sucesso de “Carmina Burana” o autor resolveu que a fórmula podia ser repetida sem grande esforço para mais um sucesso. Só que, não sei porque, ele resolveu pegar emprestada a intrumentação utilizada por Stravinsky em “Les Noces” e ainda por cima resolveu que a parte central da obra, uma peça dentro da peça, poderia se sustentar sobre um coro a capela e monólogos do tenor solista.
É claro que eu não sou um admirador da obra de Carl Orff e provavelmente esteja sendo um pouco intolerante, mas o fato é que diante da riqueza estrutural de “Les Noces”, “Catulli Carmina” parece ser algo rizível de tão pobre.
Mas, não é que “Les Noces” foi aplaudida friamente enquanto “Catulli Carmina” recebeu aplausos cheios de entusiasmo. É claro que se considerarmos o critério de que quanto mais decibéis temos no final da obra, maiores e mais sonoros serão os aplausos, não poderíamos esperar outra coisa.
Mas há algo mais nisso. Seria muito fácil dizer agora que nossas platéias ainda são muito ignorantes e são facilmente seduzidas por um final grandiloquente e que isso jamais aconteceria na Europa e bla, bla, bla... Mas, talvez a riqueza estrutural de “Les Noces” seja algo mais belo no “papel”, ou seja, algo que intelectualmente é inegavelmente belo. Quem for capaz de perceber esta estrutura tão bem urdida acontecer ao longo de uma execução terá um grande prazer estético nisso. Mas esse prazer é em grande parte intermediado pela premissa intelectual. Em contrapartida “Catulli”, que, como já disse, chega a ser rizível como estrutura e, portanto não desperta esse prazer mais intelectual, “Catulli” vai direto na pele. Ritmos fáceis, ostinatos, melodias simples e facilmente memorizáveis, um enredo simples de se acompanhar. Afinal, que mal há nisso?
sexta-feira, março 02, 2007
Agora em Sampa!
Finalmete, após incontáveis kilômetros percorridos na rodovia dos Bandeirantes, resolvi mudar pra São Paulo. A mudança, mais numa busca de praticidade do que qualidade, tem como principal vantagem poder ir de casa ao trabalho em apenas quinze minutos, mesmo na hora do Rush.
Estou mais perto dos prjetos profissionais, o que promete dar uma acelerada em algumas realizações. Mas também estou mais longe de outras coisas importantes... nunca é possível só ganhar.
Mas o ano começa com alguns bons projetos. Quero ver se movimento este blog. Tenho um monte de posts atrasados, fotos da Espanha, comentários sobre a turnê e um monte de ideias que preciso desenvolver melhor.
Estou mais perto dos prjetos profissionais, o que promete dar uma acelerada em algumas realizações. Mas também estou mais longe de outras coisas importantes... nunca é possível só ganhar.
Mas o ano começa com alguns bons projetos. Quero ver se movimento este blog. Tenho um monte de posts atrasados, fotos da Espanha, comentários sobre a turnê e um monte de ideias que preciso desenvolver melhor.
quinta-feira, dezembro 28, 2006
Por que frequentamos a escola?
Relendo Bob Pirsig (Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas) encontro um trecho sobre a educação, mas pode se aplicar à ideia de uma busca por reais motivações para qualquer coisa na vida. O trecho fala da experiência de se abolir notas em um curso universitário e parte da questão “por que nos educamos?” A resposta é óbvia: “porque almejamos o conhecimento”. Parece óvio e ninguém questiona que o objetivo maior da educação é a busca do conhecimento, mas se é assim mesmo, por que precisamos tanto de balizas que quantificam o seu desempenho através de números? Essa quantificação é tão dominante que hoje quase não percebemos mais o seu absurdo. Ela não está presente somente na educação mas também nas políticas públicas que têm como principal objetivo gerar estatísticas favoráveis ao governo.
No livro, a situação onde o professor resolve não divulgar qualquer tipo de juizo durante o curso deixa a classe totalmente desorientada. Um aluno exprime a situação com clareza: “mas nós estamos aqui por causa das notas!”. Um mecanismo criado originalmente para avaliar o desempenho acaba por se transformar no objetivo primeiro da educação.
A situação hipotética de um ensino sem avaliações descrita por Pirsig pode ser um tanto utópica, mas pelo menos pode nos fazer pensar nos nossos reais objetivos no dia a dia. No livro o autor fala de um aluno imaginário que vai se desinteressando gradativamente do curso, com o qual ele não tem a menor afinidade, até abandoná-lo, já que o estímulo das avaliações fora extinto. Uma vez fora da escola, ele procura uma ocupação como mecânico (afinal estamos falando do Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas!). A medida que o seu interesse pela mecânica vai aumentando em função de sua experiência prática, o estudante, que antes abandonara a escola por total falta de interesse, sente que é hora retornar. Agora ele tem um interesse real na educação, ele sabe exatamente o que veio buscar na escola.
Esse mecanismo parece bastante simple e até mesmo óbvio. Mas o que vemos na prática é exatamente o contrário. A grande maioria das pessoas estuda e busca cursos de aperfeiçoamento porque isso é considerado necessário para o seu desenvolvimento profissional não pelo incremento em sua capacidade mas porque seus títulos serão considerados em sua avaliação como profissionais. É muito difícil imaginar um cenário onde todos encaram a idéia de educar-se como uma oportunidade de crescimento pessoal amplo, já que as próprias instituições de ensino procuram vender seus cursos como produtos necessários ao sucesso. Como cliente, o aluno passa a esperar as facilidades a que todo cliente tem o direito de exigir. Ele espera passar pelos anos de formação com o maior conforto possível e o menor esforção, afinal ele já pagar pelo conhecimento. A idéia de que ele ainda precisar estudar pra aprender chega a ser absurda. É como pagar uma diária num bom hotel e ter que fazer você mesmo a cama todas as manhãs.
No livro, a situação onde o professor resolve não divulgar qualquer tipo de juizo durante o curso deixa a classe totalmente desorientada. Um aluno exprime a situação com clareza: “mas nós estamos aqui por causa das notas!”. Um mecanismo criado originalmente para avaliar o desempenho acaba por se transformar no objetivo primeiro da educação.
A situação hipotética de um ensino sem avaliações descrita por Pirsig pode ser um tanto utópica, mas pelo menos pode nos fazer pensar nos nossos reais objetivos no dia a dia. No livro o autor fala de um aluno imaginário que vai se desinteressando gradativamente do curso, com o qual ele não tem a menor afinidade, até abandoná-lo, já que o estímulo das avaliações fora extinto. Uma vez fora da escola, ele procura uma ocupação como mecânico (afinal estamos falando do Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas!). A medida que o seu interesse pela mecânica vai aumentando em função de sua experiência prática, o estudante, que antes abandonara a escola por total falta de interesse, sente que é hora retornar. Agora ele tem um interesse real na educação, ele sabe exatamente o que veio buscar na escola.
Esse mecanismo parece bastante simple e até mesmo óbvio. Mas o que vemos na prática é exatamente o contrário. A grande maioria das pessoas estuda e busca cursos de aperfeiçoamento porque isso é considerado necessário para o seu desenvolvimento profissional não pelo incremento em sua capacidade mas porque seus títulos serão considerados em sua avaliação como profissionais. É muito difícil imaginar um cenário onde todos encaram a idéia de educar-se como uma oportunidade de crescimento pessoal amplo, já que as próprias instituições de ensino procuram vender seus cursos como produtos necessários ao sucesso. Como cliente, o aluno passa a esperar as facilidades a que todo cliente tem o direito de exigir. Ele espera passar pelos anos de formação com o maior conforto possível e o menor esforção, afinal ele já pagar pelo conhecimento. A idéia de que ele ainda precisar estudar pra aprender chega a ser absurda. É como pagar uma diária num bom hotel e ter que fazer você mesmo a cama todas as manhãs.
sexta-feira, outubro 27, 2006
Jordi Savall e Montserrat Filgueras: um passo a frente da música antiga
Jordi Savall e Montserrat Filgueras, dois dos grandes nomes da música historicamente orientada, mostram que é possível caminhar junto às pesquisas musicológicas sem que o resultado final seja uma música sem vida. Escrevo isso enquanto escuto “Don Quixote de la Mancha - Romances y Musicas”, um completo levantamento de todas a s referências musicais da obra de Cervantes. Antes de soar como algo enciclopédico, como seria de se esperar em uma empreitada dessas, os dois CDs, que acompanham o livreto com as passagens do quixote que pões em cena a música, soam expêndidos, cheios de vida. É começar a ouvir para nos transportarmos para a Castilla la Mancha de Cevantes no princípio do século XVII.
Assinar:
Postagens (Atom)